A dor crônica é um problema de saúde que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Para muitas pessoas, os tratamentos convencionais, como o uso de medicamentos analgésicos e terapias físicas, não oferecem alívio adequado. Nesses casos, a neurocirurgia funcional surge como uma opção para o tratamento da dor crônica e promoção de melhoria na qualidade de vida.
O que é dor crônica objetivamente?
A dor crônica é uma condição caracterizada pela persistência da dor por um período prolongado, geralmente superior a três meses. Diferentemente da dor aguda, que é uma resposta temporária a uma lesão ou doença, a dor crônica pode persistir mesmo após a cura da causa inicial. Ela pode ser resultante de condições médicas como doenças inflamatórias, degenerativas, disfuncionais, lesões musculoesqueléticas, vasculares, doenças infecciosas, entre outras. É comum a associação de dor crônica com outros problemas de saúde, como insônia, depressão, ansiedade, fobia social, irritabilidade, estresse e indisposição. As vias neurais envolvidas em sua etiologia são em parte comuns. Muitas vezes o tratamento para uma dor crônica demanda uma equipe multi e interdisciplinar, além da participação ativa do paciente no tratamento.
Tratamentos convencionais para a dor crônica
No tratamento da dor crônica, os médicos geralmente recorrem a uma combinação de abordagens convencionais. O uso de medicamentos analgésicos, como opioides, anti-inflamatórios e antidepressivos, é comum para o controle da dor. Além disso, o tratamento não-medicamentoso, com terapias físicas, como fisioterapia e reabilitação, deve ser prescrito. Terapias adicionais, como acupuntura e massagem, também são comumente utilizadas como complemento com boa eficácia aos respondedores.
Limitações dos tratamentos convencionais
Mesmo com os avanços nos tratamentos convencionais, ainda há limitações no alívio efetivo da dor crônica. Os medicamentos analgésicos podem ser insuficientes, causar efeitos colaterais indesejados, como dependência, sonolência e constipação. Além disso, a eficácia de algumas terapias físicas e alternativas pode variar de paciente para paciente, não proporcionando um alívio duradouro e satisfatório. Outra questão importante é a necessidade de tratamento contínuo, o que pode ser oneroso e impactar a qualidade de vida do paciente em longo prazo. A motivação para manutenção da terapia não-medicamentosa é outra causa comum de falha terapêutica.
Neurocirurgia funcional para dor
A neurocirurgia funcional para dor é realizada por médicos neurocirurgiões e utiliza técnicas cirúrgicas para modular ou modificar o funcionamento do sistema nervoso central ou periférico, visando o tratamento da dor crônica e de outras condições neurológicas. Essa abordagem busca identificar e modificar os circuitos neurais responsáveis pela sensação e percepção da dor. Ainda é possível modular a percepção da dor, além de cirurgias para interrupção da sinalização dolorosa, com interrupção temporária ou permanente de vias neurais. A neuromodulação promove alterações reversível à essas vias, sendo uma alternativa muito utilizada para pacientes com dor crônica.
Tipos de procedimentos realizados
A neurocirurgia funcional engloba uma variedade de procedimentos cirúrgicos para o tratamento da dor crônica. Alguns dos mais comumente realizados são:
- Bloqueios de estruturas neurais
Procedimentos geralmente percutâneos onde estruturas neurais relacionadas com a dor são temporariamente silenciadas de forma diagnóstica ou terapêutica. Pode ser realizado em diferentes regiões do sistema nervoso central ou periférico - Rizotomia, tractotomia, nucleotomia, hipofisectomia e cordotomia
Procedimentos onde estruturas nervosas específicas responsáveis pela dor são destruídas cirurgicamente de forma controla e seletiva, interrompendo a chegada do sinal da dor ao cérebro. - Neuromodulação elétrica da dor
Consiste na inserção de um dispositivo que utiliza energia elétrica para interrupção ou modificação da sinalização da dor. Os mais comumente utilizados são a estimulação medular, estimulação do gânglio da raiz dorsal ou estimulação de nervos periféricos. - Implante de bomba de infusão de fármacos (neuromodulação química)
Consiste na inserção de um dispositivo que libera medicamentos analgésicos ou miorrelaxantes diretamente no espaço intratecal, proporcionando alívio da dor. - Lesão por radiofrequência
Envolve a aplicação de radiofrequência gerando lesão temporária ou permanente (a depender da maneira como é realizada) em nervos ou gânglios específicos, interrompendo a transmissão dos sinais de dor. Muito utilizada no tratamento de dores na coluna (dores facetarias) e dores relacionadas ao nervo trigêmeo (neuralgia trigeminal), mas pode ser utilizada em diversos outros tipos de dor também. - Estimulação cortical invasiva
Envolve a implantação cirúrgica de eletrodos na superfície cortical do encéfalo, que emitem pulsos elétricos para modular a atividade neuronal e reduzir a percepção da dor. - Estimulação cerebral profunda
Envolve a implantação de eletrodos em áreas específicas profundas do encéfalo, que emitem pulsos elétricos para modular a atividade neuronal e reduzir a percepção da dor.
Indicações para a neurocirurgia funcional no tratamento da dor crônica
A neurocirurgia funcional é indicada quando os tratamentos convencionais falham em proporcionar alívio adequado da dor crônica. Além disso, ela pode ser recomendada para pacientes com condições médicas específicas que causam dor crônica persistente.
Procedimento cirúrgico e cuidados pós-operatórios
Antes de realizar o procedimento cirúrgico, uma avaliação pré-operatória detalhada é conduzida para determinar a adequação do paciente para a neurocirurgia funcional. Durante o procedimento, o paciente é submetido à anestesia geral ou local, a depender do procedimento, e os neurocirurgiões realizam as etapas necessárias de acordo com o tipo de procedimento escolhido. Após a cirurgia, são necessários cuidados pós-operatórios, que podem incluir medicações, fisioterapia e acompanhamento regular com o médico. Alguns procedimentos são feitos sem necessidade de internação, o paciente pode ir para casa no mesmo dia, outros mais complexos podem exigir internação.
A neurocirurgia funcional representa uma opção promissora no tratamento da dor crônica, especialmente quando os tratamentos convencionais se mostram insuficientes. No entanto, é essencial que cada caso seja avaliado individualmente por um médico especialista, levando em consideração a condição médica específica do paciente e os potenciais benefícios e riscos associados à cirurgia. O campo da neurocirurgia funcional continua evoluindo, e espera-se que novos avanços e técnicas aprimoradas melhorem ainda mais os resultados para os pacientes com dor crônica.