A dor é uma experiência desagradável que pode ser incapacitante e afetar significativamente a qualidade de vida de uma pessoa. Felizmente, existem várias opções de tratamento disponíveis para ajudar a controlar a dor. Uma delas consiste em uma cirurgia onde é implantado um dispositivo que injeta a morfina diretamente no líquido cefalorraquidiano do paciente, a chamada bomba de morfina. Trata-se de um dispositivo que permite a administração controlada de morfina diretamente no sistema nervoso, proporcionando um alívio eficaz e ajustável da dor.
Fonte da imagem: adaptado de http://www.medtronic.com
Bomba de morfina - Definição e funcionamento
Uma bomba de morfina é um dispositivo implantável que fornece uma dose precisa de morfina infundida diretamente no sistema nervoso do paciente. O procedimento pode ser testado antes de ser realizado, como chamado teste com morfina intratecal ou teste com morfina epidural, o que irá predizer se o paciente responde ou não ao tratamento. Este dispositivo contém uma bateria com um sistema injetor preciso e controlável, acoplado a um reservatório que contém a medicação e um sistema de distribuição que permite a liberação controlada do medicamento. A bomba de morfina pode ser programada pelo médico de acordo com as necessidades individuais do paciente, garantindo uma dosagem adequada e constante ao longo do tempo. Há necessidade de seguimento com o médico, já que uma bomba implantada demanda cuidados contínuos, como ajustes de doses, refis de medicação periódicos (para reposição da medicação no reservatório, feito por uma injeção) e eventuais trocas de bomba quando a bateria está próxima de esgotar (média de 5 a 7 anos).
Tipos de bombas de morfina
Existem dois tipos principais de bombas de morfina: a bomba implantável e a bomba externa. A bomba implantável é cirurgicamente inserida sob a pele, geralmente na região abdominal, e possui um reservatório que deve ser recarregado periodicamente pelo médico, não ficando nada exposto por fora do corpo. A bomba implantada é utilizada em pacientes portadores de dor crônica, ou seja, aqueles que apresentam dor persistente por 3 ou mais meses.
Já a bomba externa é diferente da bomba implantável, ela é utilizada de forma temporária e fica fora do corpo, sendo conectada a um cateter que é inserido na área afetada pela dor. O cateter sim está inserido no corpo, o dispositivo não. Essa opção é mais utilizada para dores agudas, como estados pós-cirúrgicos, onde uma maior analgesia é necessária, mas não está previsto o uso por período prolongado ou em pacientes em estágios terminais, para alívio de sofrimento relacionado à dor.
Utilização da bomba de morfina no controle da dor
- Dor crônica versus dor aguda
A bomba de morfina é utilizada tanto no controle da dor crônica quanto no tratamento da dor aguda. A dor crônica é aquela que persiste por longos períodos de tempo, geralmente mais de três meses, e pode ser causada por condições como artrites, artroses, mialgias, dores disfuncionais como a fibromialgia ou neuropatia. Já a dor aguda é uma dor que se iniciou há menos de 3 semanas causada por lesões, cirurgias ou outras situações ocasionais. A dor subaguda apresenta duração entre 3 semanas a 3 meses. - Vantagens da bomba de morfina
A utilização da bomba de morfina apresenta várias vantagens em relação a outras formas de administração de medicamentos para o controle da dor. Ao fornecer a medicação diretamente no sistema nervoso, a bomba de morfina permite uma ação mais rápida e eficaz, resultando em um alívio mais consistente. Além disso, a dosagem controlada reduz a necessidade de medicamentos adicionais para gerenciar a dor e minimiza os efeitos colaterais associados aos opióides. Por estar implantada no corpo, o paciente não precisa se preocupar em lembrar de tomar comprimidos para a dor além de ingerir um menor número de medicações ao longo do dia.
Benefícios da bomba de morfina no controle da dor
- Alívio da dor
A principal vantagem da bomba de morfina é o alívio eficaz da dor. A administração controlada do medicamento garante que a quantidade necessária para o controle da dor seja fornecida continuamente, evitando picos de dor e proporcionando um alívio constante ao paciente. É possível realização de ajustes personalizados com fluxo flexível da medicação ou uso de controle de dose pelo paciente. - Melhoria da qualidade de vida dos pacientes
A dor crônica pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes, limitando suas atividades diárias e afetando seu bem-estar emocional. Com o uso da bomba de morfina, muitos pacientes relatam uma melhoria significativa na qualidade de vida, sendo capazes de retomar suas atividades normais e desfrutar de uma vida mais plena. - Redução do uso de opioides orais
Os opioides orais, como a morfina em comprimidos, podem causar efeitos colaterais indesejados, como náuseas, sonolência e constipação. Com a bomba de morfina, a medicação é administrada diretamente no líquido cefalorraquidiano, ao redor do sistema nervoso central, permitindo uma dosagem muito menor que a utilizada por via oral e mais precisa, reduzindo a necessidade de opioides orais, o que minimiza os efeitos colaterais sistêmicos associados.
Considerações importantes no uso da bomba de morfina
- Avaliação e monitoramento
Antes de iniciar o tratamento com a bomba de morfina, é essencial que o médico avalie cuidadosamente o paciente para determinar a adequação desse tipo de terapia. Além disso, um monitoramento regular é necessário para garantir que a dosagem esteja correta e que o paciente esteja respondendo adequadamente ao tratamento. Também deve-se acompanhar possíveis efeitos a longo prazo, por isso, é importante conversar com o médico sobre as expectativas do tratamento e estar próximo da equipe que o acompanha. - Efeitos colaterais e precauções
Embora a bomba de morfina seja geralmente segura e eficaz, ela pode apresentar alguns efeitos colaterais, como coceira (geralmente temporária e responsiva a medicação), dor local após a inserção (costuma melhorar após o quinto dia), risco de extravasamento de liquor para tecidos adjacentes (gerando uma dor de cabeça que piora quando fica em pé e melhora quando deitado – isso costuma ocorrer logo após a cirurgia e costuma melhorar após um dia em repouso), risco de infecção ou de mal funcionamento (muito raro). O manejo inadequado da infusão de morfina ao sistema nervoso central pode levar à intoxicação ou à abstinência, os dois são muito perigosos para a saúde e relacionados à graves consequências. O procedimento deve ser realizado e acompanhado por equipes que tenham experiência. É importante estar ciente desses possíveis riscos e relatar qualquer sintoma incomum ao médico imediatamente. Além disso, é crucial seguir todas as orientações médicas e precauções fornecidas para garantir um uso seguro e eficaz.
A Sociedade Internacional de Neuromodulação (INS) endossa com nível Ia de evidência o uso de bomba de morfina para dores crônicas oncológicas e nível de evidência IIIb para dores não-oncológicas. A infusão de outras medicações pelo mesmo dispositivo implantado, associadas ou não com a morfina, como a bupivacaína, clonidina, baclofeno, ziconotida ou outros é possível, a ser definido pelo médico responsável.